Tom Jobim: o amor e a natureza (1)

Rinaldo de Fernandes analisa as canções de Tom Jobim
O compositor Tom Jobim
01/06/2012

As canções gravadas por Tom Jobim — as dele próprio e as de alguns compositores consagrados — se constituem de duas vertentes básicas: o cantar o amor (ou, em certos casos, o desamor) e o cantar a natureza. Não será difícil reconhecer nas letras de várias dessas canções traços característicos do Romantismo. As letras de amor de Tom se traduzem, em grande parte, nos seguintes movimentos: um que celebra a felicidade ao lado da amada, um outro que reclama a falta do objeto da paixão e um terceiro que flagra crises na relação conjugal. No segundo caso, e um pouco no terceiro, há o interdito, a impossibilidade de o amor se concretizar — e aí o tom (sem trocadilho) que sobressai é o da tristeza, da amargura, do padecimento amoroso. A felicidade, ou a própria amada, a convivência que apazigua e fortalece, é cantada na emblemática Corcovado, de uma simplicidade ímpar e de grande intensidade poética: “Um cantinho, um violão/ Esse amor, uma canção/ Pra fazer feliz a quem se ama// Muita calma pra pensar/ ter tempo pra sonhar// Da janela vê-se o Corcovado// O Redentor, que lindo// Quero a vida sempre assim// Com você perto de mim/ Até o apagar da velha chama// E eu que era triste/ Descrente deste mundo/ Ao encontrar você eu conheci/ O que é felicidade, meu amor”.

Continua na próxima edição.

Rinaldo de Fernandes

É escritor e professor de literatura da Universidade Federal da Paraíba. Autor de O perfume de Roberta, entre outros.

Rascunho