Quarta: por que os escritores, nas últimas décadas, começaram a fazer mais minicontos? Em decorrência, talvez, da dinâmica da vida moderna, que exige rapidez e o surgimento permanente de novas tecnologias. No início do século 20, o Futurismo, vanguarda histórica importante, já pregava a velocidade e o culto à máquina como vetores dos novos tempos. Creio que o miniconto hoje pode ter uma dinâmica e mesmo uma recepção, em certos casos, mais favoráveis do que o conto, pelo fato de ter o suporte importante das redes sociais. Mas a prática do miniconto nas redes não elimina o livro impresso, independentemente do gênero que esse livro contemple. Há no mercado bons livros de poesia, de contos, de minicontos — e há bons romances. O livro impresso ainda vai durar muito tempo. E conviver muito bem com os textos digitais. Quinta: o papel do miniconto é diferente do conto? Em termos de recepção crítica, creio que sim. Lembro do crítico Antonio Candido, que dizia que nenhum cronista tem notabilidade a ponto de ganhar o Prêmio Nobel. Isto ocorre, pelo menos por enquanto, com o minicontista. Há uma tendência da crítica de valorizar mais o conto do que o miniconto. A crítica é conservadora em relação a certos gêneros. Crônica e miniconto, se comparados à poesia, ao conto, ao romance e ao texto dramático, são espécies de textos menos valorizados pelos críticos. Mas são espécies que sempre têm um público cativo. O que é um grande estimulo para a prática e permanência delas. Sexta: qual o desafio para se escrever um miniconto? Tchekhov, o grande contista russo, dizia, em tom jocoso, que na escrita do conto há três etapas: escreve-se o início e o fim do conto; e no meio dele coloca-se talento. Isto vale para qualquer gênero literário. Não existe fórmula para se escrever miniconto. Há que se ter talento. Sétima: como exercitar o miniconto? De várias formas, a fantasia criadora é que vai conduzir. Mas ler grandes contos e reescrevê-los, reduzindo-lhes o tamanho, é um bom exercício. Certos textos dos grandes contistas — Machado de Assis, Cortázar, Borges, Tchekhov, Edgar Allan Poe — podem ser lidos com o olhar do minicontista. É um exercício instigante: ler um conto clássico e pensar na possibilidade de contar aquela história de modo compacto, comprimido.