A terceira instância definidora do que seja a literatura brasileira contemporânea é a da crítica universitária. Ocupada mais em recuperar o passado, em apreciar autores do cânone — algo imprescindível, pois alguma instituição tem que lidar com a memória, com as reputações literárias — a crítica universitária, em princípio, parece ler pouco, parece acompanhar apenas parcialmente a grande massa de autores contemporâneos. Mas tem um poder grande de consolidar os autores que merecem ou que merecerão ser pesquisados, estudados. E que poderão permanecer. Embora um pouco mais aberta à obra não publicada pela grande ou média editora, ainda assim a crítica universitária está condicionada: 1) pela obra publicada nacionalmente por uma editora de grande ou médio porte; 2) pela obra que primeiro circula em jornais, ou seja, que passa pelo crivo de resenhistas. Raramente um crítico universitário “descobre” um autor novo, de pequena editora, e sua descoberta terá a devida e necessária audiência do grande ou médio editor ou dos resenhistas para tornar a obra mais conhecida. Ele tem, portanto, um poder limitado quanto a projeção e/ou divulgação de um autor. Assim, o que podemos definir como literatura brasileira contemporânea passa primeiramente, embora não exclusivamente, pelas duas primeiras instâncias: a do grande ou médio editor e a do resenhista. São, num primeiro momento, e descontadas as obras de pouco ou sem qualquer valor que caem no mercado, as instâncias decisivas para determinar o que é literatura contemporânea de qualidade. A crítica universitária, na sua fala sobre o contemporâneo, tende a vir a reboque dessas duas instâncias. Tende a ser, quanto à testagem da qualidade, um discurso reduplicador (claro: até certo ponto, pois não concorda com tudo o que propagam editores e resenhistas como sendo de valor). Ou melhor: a crítica universitária tende a consolidar e só raramente descobrir obras de qualidade. Seu poder principal reside justamente nesse papel de consolidação de certas obras e, por conseguinte, de certos autores. Embora dependente do editor e do resenhista quanto à descoberta de novos valores literários, é a crítica decisiva acerca do que poderá ficar.