No trabalho de armação da intriga, o historiador se valeria, segundo Hayden White, dos tropos da retórica clássica (metáfora, metonímia, sinédoque e ironia) para produzir uma narrativa mais eficaz. A busca desses elementos retóricos — próprios da literatura — pelo historiador serve para enriquecer o sentido do acontecimento histórico. Serve para preservar esse sentido. Utilizando-se desses recursos retóricos, o historiador faz mais viva a sua narrativa, já que a função dos tropos é mesmo dar ao pensamento mais vivacidade, energia; às vezes, imprimir mais graça, beleza ao enunciado. O historiador constrói a sua obra juntando, por um lado, os elementos retóricos que governam a sua narração/exposição dos fatos, e, por outro lado, a lógica que comanda as suas deduções, as suas conclusões, numa palavra, as suas explicações desses mesmos fatos. O historiador, portanto, usa retórica e lógica no seu discurso. Ou seja, ele narra, expõe o fato e, ao narrar, se utiliza da retórica para que a sua argumentação surta um melhor efeito. A sua descrição do fato é de caráter narrativo, utilizando-se da retórica; a sua explicação é de caráter argumentativo/dedutivo, valendo-se da lógica. A retórica, assim, imbricando-se na narração e funcionando a favor da explicação dos fatos, constitui, em historiografia, uma peça-chave para que esses fatos passem por verdadeiros. Hayden White, com isso, tenta estabelecer o princípio básico do que chama de “imaginação histórica”. Tenta mostrar o lado ficcional da historiografia, o quanto é intercambiável a elaboração romanesca e a historiográfica: “Os leitores de histórias e de romances dificilmente deixam de se surpreender com as semelhanças entre eles. Há muitas histórias que poderiam passar por romance, e muitos romances que poderiam passar por histórias, considerados em termos puramente formais (ou, diríamos, formalistas). Vistos apenas como artefatos verbais, as histórias e os romances são indistinguíveis uns dos outros. Não podemos distinguir com facilidade entre eles, em bases formais, a menos que os abordemos com pré-concepções específicas sobre os tipos de verdade de que cada um supostamente se ocupa” (in: As ficções da representação factual. In: Trópicos do discurso: ensaios sobre a crítica da cultura. São Paulo: EDUSP, 1994, p. 137-38).