A Caos & Letras, de Nova Lima (MG), tem lançado livros de contos de jovens autores talentosos, inquietos formalmente. São novidades muito bem vindas. Meio estreito, de Roberto Menezes, é um desses livros. Menezes é um autor inserido plenamente no contemporâneo. Quanto aos temas: a questão do trabalho informal, da violência urbana (e como efeito e estímulo dela o mundo dos games, dos jogos eletrônicos), das relações de gênero, dos mascaramentos da fé, do esgarçamento das relações sociais, etc. Seu estilo é bem diferente de uns tantos autores originários do Nordeste, alguns deles ainda dialogando, mesmo que em parte, com a tradição regionalista. O estilo resgata uma linguagem jovem (há muitos personagens jovens no livro), despojada, em certos contextos empregada ou tida como expressão identitária de indivíduos da periferia. Sua ficção, assim, tendo como ambiente social (ou como mitologia pessoal) a pequena e nordestina Santa Rita, traz personagens, temas e linguagem que situam seus enredos em qualquer média ou grande cidade do país. Roberto Menezes é um autor essencialmente urbano, que flagra situações e dramas de uma urbanidade em essência problemática. Destaco alguns contos do livro: o de número 2, que aborda de modo cirúrgico a natureza do trabalho informal; o de número 3, primoroso, talvez o melhor do volume, com a figura feminina (tão bem construída em seus anseios, desejos e vulnerabilidades) e seu amante volúvel; o de número 5, que reposiciona a figura do pastor e sua fé; o de número 6, tratando de um bizarro onanismo coletivo (em um ambiente que tem muito de enfermiço, de mórbido). Meio estreito é de fato um livro muito atraente e se insere na boa literatura urbana que se pratica hoje no país.