Nosso sistema editorial é iníquo, insensível ainda aos autores que estão fora do eixo Rio-São Paulo. Embora, nos últimos anos, algumas editoras tenham aparecido nas várias regiões, em cidades de médio e grande porte, a distribuição nacional dos livros ainda é muito precária, quase inexistente. Se, para publicar o primeiro livro por uma grande editora, um escritor do eixo Rio-São Paulo precisa matar um boi — eu diria que o escritor proveniente da periferia (Nordeste, Norte, Centro-Oeste, sobretudo) precisa abater uma boiada. O sistema editorial reflete as nossas disparidades sociais. É incrível como ainda há preconceito de editora de grande ou médio porte com o autor da periferia. O que explica um poeta com a qualidade do pernambucano Alberto da Cunha Melo ter ficado tanto tempo sem ser publicado nacionalmente? É que o lugar social do autor, com uma ou outra exceção, determina a sua aceitação no mercado editorial (determina às vezes até a recepção de sua obra, inclusive entre críticos e acadêmicos). Uma tentativa de resumir a condição do escritor da periferia: 1) ele sofre, nas metrópoles Rio e São Paulo, e mesmo tendo muita qualidade, o preconceito das grandes e médias editoras; 2) ele dificilmente consegue, nos grandes jornais e revistas do eixo (e do país), espaço para divulgar sua obra; 3) os prêmios literários, subprodutos do sistema editorial, raramente são dados para ele (basta conferir, por exemplo, a geografia do Jabuti ou dos prêmios da ABL); 4) a instabilidade do escritor da periferia é permanente: mesmo tendo lançado um título por uma média ou grande editora, ele, ao contrário de muitos autores do eixo, está sempre sem editor para o próximo livro; 5) o lugar social dele repercute, não raro, na recepção de sua obra. Acho que esse estado de coisas precisa, de algum modo, ser alterado. Deveria haver incentivo para editoras fora do eixo, possibilitando-lhes a distribuição nacional de livros. Tem gente na província produzindo ótima literatura (em certos casos, bem melhor do que a de autores já consagrados no mercado). Mas é muito injusto ainda (algo que reflete o nosso subdesenvolvimento) o mundo editorial brasileiro. Os critérios de avaliação de certos editores chegam a ser pífios. Isto, contudo, não impede (e nunca impediu) uma produção de muito valor. Afinal, toda periferia sempre tem os seus mestres.