O Modernismo dos anos 20 teve como principal propósito renovar as artes. No campo literário, a renovação se fez em relação aos estilos de época do final do século 19, Parnasianismo e Simbolismo, sobretudo, chamados por alguns de literatura passadista. Alguns acontecimentos que antecipam e determinam o Modernismo de 20, mesmo ou sobretudo os que ocorrem fora do país, estão situados no chamado Pré-Modernismo (Alfredo Bosi atribui dois sentidos ao termo Pré-Modernismo: 1) o que concede ao prefixo pré uma “conotação meramente temporal de anterioridade”; 2) o que dá a esse prefixo “um sentido forte de precedência temática e formal em relação à literatura modernista”). O primeiro acontecimento é a renovação nas artes proposta pelas vanguardas europeias (estou me valendo aqui, além do livro de Gilberto Mendonça Teles Vanguarda europeia e modernismo brasileiro, da boa síntese feita por Lúcia Helena no seu livro Modernismo brasileiro e vanguarda europeia). As vanguardas, hoje denominadas históricas, são: a) Futurismo: liderado por Filippo Tommaso Marinetti e cujo manifesto foi divulgado em Paris em 1909. Entre as propostas do Futurismo, destaque para as palavras em liberdade (o que rompe, em poesia, com a tradição da metrificação), a imaginação sem fios (escrita livre, solta, sem o engessamento da lógica gramatical) e associação livre de elementos (por exemplo, metáforas com fusão de elementos díspares, imprevisíveis, impensados); b) Cubofuturismo: foi lançado em Moscou em 1912, com um manifesto intitulado Bofetada no gosto do público, e juntou as orientações estéticas do futurismo italiano às do cubismo francês. Entre os seus líderes, estava o poeta Maiakovski. Negando a tradição literária russa, os cubofuturistas propuseram, entre outras coisas, o desprezo à literatura de teor místico e moral, a valorização da poesia de experimentação linguística (o que desautoriza a teoria da inspiração) e a criação de neologismos; c) Expressionismo: surgido na Alemanha, teve suas orientações estéticas propagadas entre 1910-1920. Propostas de destaque do único manifesto da poesia expressionista lançado em 1918 por Kasimir Edschmid: a) a realidade é representada com deformações, já que é interpretada subjetivamente pelo artista expressionista (Kasimir Edschmid, em seu manifesto, diz: “Agora não existe mais a cadeia dos fatos: fábricas, casas, doença, prostitutas, gritaria e fome. Existe a visão disso [grifo meu]”); b) o Expressionismo é supranacional (conforme ainda Kasimir Edschmid, “ele não é programa do estilo. É um problema da alma. Uma coisa da Humanidade”). Os poetas expressionistas operavam com deformações grotescas do mundo, com visões apocalípticas, e procuravam refletir de perto o processo histórico, a contemporaneidade, criticando fortemente o capitalismo.