Entrei no Curso de Letras da Universidade Federal do Ceará em 1982. Era um momento marcante para a vida do país: o período da redemocratização. Lembro que a Reitoria promovia os Encontros culturais, dos quais participavam pensadores, cientistas políticos e pesquisadores do Brasil afora. Aprendi muito, nos Encontros culturais (fazia questão de me inscrever e acumular numa pasta meio surrada os certificados de presença), com os palestrantes que vinham debater problemas brasileiros, que traziam a memória do período militar e as novas perspectivas que se apresentavam ao país. Nesse momento entrei para o Centro Acadêmico, fui diretor de Cultura. Com os colegas da diretoria do CA, fizemos uma campanha no Curso de Letras para montar a biblioteca Moreira Campos. Foi muito bem acolhida a campanha: em poucos dias, empilharam-se volumes (especialmente de dicionários velhos, doados por professores) no piso do CA. Porém, embora com inúmeras investidas na Direção de Centro de Humanidades, nunca conseguimos um espaço para organizar a biblioteca — e a boa ideia foi pegando poeira. No Curso de Letras havia os Encontros literários, cujo coordenador era o professor de Literatura Portuguesa e grande contista Moreira Campos. Em 2012, o escritor cearense Nilto Maciel me pediu um depoimento sobre o professor Moreira Campos. E eu escrevi o que se segue, para uma publicação que o Nilto organizou: “Conheci Moreira Campos no pátio do Curso de Letras da Universidade Federal do Ceará. Magro, sempre de terno, acenando para os alunos — uma simpatia em pessoa. Como aluno da Letras, nunca deixei de assistir a uma palestra do professor Moreira Campos. Grande orador, sempre admirei a sua prosa penetrante, divertida. Profundo leitor de Machado de Assis (de quem narrava cenas inteiras, para lembrar a ambiguidade dos personagens, o interesse humano por trás dos ‘bons’ gestos), de Eça de Queirós e de Graciliano Ramos, de quem herdou o estilo enxuto, preciso, seco. Quando descobri o contista Moreira Campos, minha admiração redobrou, resultando numa verdadeira obsessão pelas narrativas curtas do Mestre. Li muito Moreira Campos, autor de contos soberbos —O preso, Lama e folhas, O peregrino, etc. Cheguei a entrevistá-lo (a entrevista foi estampada no jornal O Povo). Mostrei meus primeiros contos para ele — e dele recebi um incentivo fundamental para um jovem que, àquela altura (meados dos anos 80), queria imensamente se tornar escritor. Daí em diante, nos tornamos amigos. A Moreira Campos, grande referência para mim (como pessoa, como professor e como escritor), agradeço, sempre, as primeiras palavras sinceras de incentivo”.