Drummond é um poeta que faz pensar. Por suas imagens precisas, potentes. Interessante a estrutura deslocada de A flor e a náusea. Do livro A rosa do povo (1945), o mais participante do poeta mineiro, o poema já começa perturbando o leitor pela inversão da ordem dos elementos contidos no título. Na verdade, o primeiro elemento a ser explorado, em mais da metade do texto, é aquele que remete à semântica da náusea. São as imagens que tratam do tempo (histórico) presente, interrogando-o e negando-o. Um texto existencialista, que expõe, com toda força, aquele “eu” inepto ao mundo, consciente de suas mazelas e que, embora também fator das deficiências de seu tempo (“Crimes da terra, como perdoá-los?/ Tomei parte em muitos, outros escondi”), tem no “ódio” (ou no inconformismo) a sua melhor arma. Um poema reflexivo, que faz o leitor questionar a si mesmo, a sua posição no mundo, pelas imagens densas que lhe são apresentadas. A metáfora da rosa que rompe o asfalto, que espanta “o tédio, o nojo e o ódio” é expressão da esperança, essa “forma insegura” na qual, no entanto, o poeta termina por acreditar. Esperança que nasce em tempo/território tão adverso.