Crônicas absurdas de segunda é uma seleção de crônicas que Raymundo Netto publicou no jornal O Povo, de 2007 a 2010. Há no livro uma unidade, uma estrutura eficiente, que decorre dos seguintes elementos: 1) emprego constante de intertextualidade (aproveitamento, através da paráfrase, do pastiche ou mesmo da paródia reverencial, de trechos de obras de autores do passado e do presente); 2) utilização do fantástico nos enredos; 3) telurismo (o Ceará — os seus escritores, mortos e vivos — é o grande protagonista das crônicas); 4) didatismo (para cada crônica, há uma nota biográfica sobre o personagem-tema — o que contribui para tornar o livro também um consistente manual sobre a literatura cearense). Como a crônica de Raymundo Netto, como bem disse Ana Miranda, traz um narrador que “gosta de conversa” (algo análogo ao que formulou Antonio Candido, ou seja, que o cronista enceta uma “conversa com o leitor”), indico aqui as conversas que mais me chamaram a atenção no livro: a com a estátua de Rachel de Queiroz (A moça do Zepelim prateado), de caráter metalinguístico, em que é discutido o fazer do cronista; a que trata de uma “mania” do também cronista Pedro Salgueiro (A dança das cadeiras), que, no bar, numa roda de amigos, “é sempre o último a se levantar para ir embora”, evitando assim a “falação” dos outros; a com o poeta Quintino Cunha (Molequintino), excelente, exemplo do emprego eficaz do humor na crônica; a com o contista e cronista Airton Monte (Um monte de barata), que aparece uma noite metamorfoseado de barata.