Carlos Ribeiro, que já integrou inúmeras coletâneas nacionais de contos, é um autor reconhecido pela crítica, tendo sido objeto de estudos acadêmicos e da apreciação de nomes altos da literatura brasileira. Passo a comentar alguns contos do autor (membro da Academia de Letras da Bahia) que integram os seus Contos reunidos, com base na tipologia de Alfredo Bosi constante do ensaio Situação e formas do conto brasileiro contemporâneo. A quase crônica da vida urbana — “Imagens urbanas”, que constou da antologia Geração 90: manuscritos de computador, organizada por Nelson de Oliveira, é um dos melhores contos brasileiros dos últimos tempos. De técnica sofisticada, cinematográfico, tem no foco narrativo e na densidade dos personagens o seu ponto alto. O foco narrativo se desloca de cima para baixo, de uma panorâmica para um close, flagrando tipos de uma Salvador metropolitana. Tipos angustiados, dilacerados, marcados por uma urbanidade problemática. De enredo circular, o conto desce ao inferno pessoal de cada um dos protagonistas, sendo o desvelamento da interioridade deles a força principal dessa narrativa. A cidade do presente, confrontada com a do passado, gera desconfiança, confusão, e mobiliza a memória afetiva — como é o caso de A cidade revisitada, enfocando Salvador. Os riscos da vida urbana, a insegurança que cria paranoia nos indivíduos tem em Mão-inglesa um exemplo marcante. A cidade é sobre a distopia do urbano — o caos, o vazio dos seres, o mal-estar que se alastra com o crescimento da metrópole. O sufoco, a asfixia do urbano tem em Eliezer, de Corredores, um sintoma. O sujeito multifacetado protagoniza O visitante onírico. E o dramático Esse entardecer flagra, num consultório médico, uma das fobias do indivíduo atual — o da doença incurável.