Chico Buarque foi flagrado beijando uma morena no Leblon. Pintou como um escândalo, o episódio. Mas o que está por trás disso? O fato de se tratar de um artista do mais alto valor que sempre impediu que fosse invadida a sua privacidade. Aqui, portanto, o principal problema: o público e o privado. A mídia quer tudo do bom artista, vende-o permanentemente. Quando ele se destaca na produção de uma obra, aplaude-o, aperreia-o, alimenta-lhe o ego. Mas quando recua, ricocheteia, ela apronta. Projeta/explora a imagem mais vendável que aparecer. Chico, já faz algum tempo, ricocheteou, pulou fora da mídia. Por isso, ficou ainda mais vulnerável a ela. No final dos anos 60, foi associada ao artista a imagem de “bom moço”, filho de (boa) família que toda mãe queria ter. Depois, foi sendo agregada a essa imagem uma outra, a do artista competente, engajado. E Chico ficou como expressão de beleza (as mulheres ainda o adoram), talento e engajamento político. Agora um certo Chico “maldito”, que persegue a mulher alheia, acontece. E a mídia não poderia, como sempre, deixar de palpitar, de plantar-se na praia de tão pomposa celebridade. Mas o ídolo não se borrou, pelo que percebi. Uma fã dele me escreveu (pegou meu e-mail no livro Chico Buarque do Brasil – Garamond, 2004 –, que organizei), dizendo sentir-se a própria “morena flagrada”. O Chico “maldito” parece recobrar desejos recônditos do seu público feminino.