Diz ainda Vanessa Madrona, no ensaio A metrópole moderna, o olhar surrealista: considerações benjaminianas, comparando Nadja, de André Breton, e O camponês de Paris, de Louis Aragon: “André Breton, em Nadja, joga com as imagens dos lugares percorridos pelos protagonistas, teatros, bares, galerias, monumentos, cinemas, hotéis, ruas e boulevares, incluindo-as em seu pensamento. Este jogo também se efetiva, no romance de Aragon, na deambulação da personagem que olha os detalhes que compõem a Passagem da Ópera — seus prédios, seus interiores, seus transeuntes — através de uma lente que transforma o visível em matéria onírica, a ser interpretada antes que se perca na consciência, no despertar”. Louis Aragon — conclui a pesquisadora, baseando-se sempre nos argumentos de Walter Benjamin — repõe em seu pensamento “uma colagem de imagens: sua narrativa, marcada pela descrição exaustiva de prédios — casas de tolerância, meublés, casas de banho, lojas, etc. — e de personagens — prostitutas, barbeiros, engraxates, alfaiates, cabeleireiros, modistas, esposas em passeios furtivos —, é interrompida por breves diálogos entre alegorias, e pelas palavras da cidade: os dizeres das placas comerciais das lojas, trechos de jornais, carta de bebidas de café, informações de teatro, etc. A história presente nestes fragmentos é transformada na prosa poética em experiência estética”. Assim, os poetas surrealistas apresentariam a modernidade “como um mundo de sonho”: “Aragon e Breton apresentam uma visão da modernidade como sendo o momento de um re-encantamento do mundo […]”. Para Louis Aragon, André Breton e Walter Benjamin, a cidade moderna vive “sob o império da mitologia da modernidade”. Porém, Benjamin, como historiador materialista, em sua crítica à modernidade, tem a metrópole moderna como palco onde “a história é encenada”. Benjamin, arremata Vanessa Madrona, “constrói uma crítica demolidora e denuncia que as mudanças espaciais não são meros ajustes urbanísticos, decorrentes de escolhas formais, mas materialização de práticas políticas que, por vezes, estão a serviço de projetos totalitários, contrários à necessária emancipação humana”. Benjamin vê também o tédio e a pobreza absoluta como elementos constitutivos da cidade moderna. Willi Bolle disse que o trapeiro, sob o olhar crítico de Walter Benjamin, é um indivíduo que “recolhe tudo o que a cidade jogou fora”. E que Benjamin, com Passagens, procura no fim “exibir os trapos, os farrapos da metrópole”.