Comentando O camponês de Paris, de Louis Aragon, Vanessa Madrona, no ensaio A metrópole moderna, o olhar surrealista: considerações benjaminianas, dirá que “no título do romance […], temos que a palavra camponês remete conceitualmente a condições de sociabilidade estabelecidas no campo, portanto, uma percepção não urbana, cujo ritmo é lento e constante. No entanto, este será um camponês diferente, pois seu olhar ensimesmado terá diante dos olhos a célere e mutante capital francesa: Paris”. Assim, o próprio título do romance “nos dá […] uma pista da operação surrealista: reunir imagens aparentemente díspares em uma nova constelação”. Haveria um componente autobiográfico em O camponês de Paris. Cito outra vez Vanessa Madrona: “O camponês de Paris é o próprio Aragon que, para observar sua cidade — ele é parisiense —, vaga por suas ruas com um olhar de outrem, de forasteiro, atento à cidade, aos seus monumentos, edifícios, habitantes, ruas, jardins, parques, não se sujeitando ao embotamento da percepção que acomete os nativos que adquirem um olhar que se habitua ao que está diante dos olhos, e, por isso, deixa de ver criticamente”. Aragon buscaria a “luz moderna do insólito” que reina “[…] extravagantemente nessas espécies de galerias cobertas que são numerosas, em Paris, nos arredores dos grandes boulevards e que se chamam, de maneira desconcertante, de passagens”. Os surrealistas teriam mesmo essa intenção, a de “recolocar no pensamento as imagens” (cf. Vanessa Madrona). Melhor dizendo, a de reunir imagens de “maneira inaudita”, “a fim de desalojar as imagens do mundo exterior do lugar que elas tinham tomado o hábito de ocupar” (cf. Cassou, apud Vanessa Madrona).