As passagens eram construções apoiadas em ferro e vidro. Eram, como esclarece Marcos Flamínio Peres, “as galerias cobertas que passaram a povoar Paris na virada do século 18 para o 19, como a do Cairo, de l’Ópéra, a Vivienne ou a Véro-Dodat, várias delas hoje já demolidas”. Nas passagens, enfim, conforme ainda Wagnervalter Dutra Júnior, no artigo Breve leitura do espaço-tempo nas “Passagens” de Walter Benjamin: contribuições para compreensão geográfica do capitalismo, “as vitrines e os preços fixos ao lado das mercadorias inovam o mundo do comércio da moda. Apelos do ponto de vista do desejo e do onírico que os comerciantes parisienses converteram ao seu favor nas vendas de mercadorias. As passagens despertam desejos recônditos ancorados nas fantasmagorias da mercadoria”. No ensaio A metrópole moderna, o olhar surrealista: considerações benjaminianas, Vanessa Madrona Moreira Salles, com dotourado pela Universidade de São Paulo, afirma que “Walter Benjamin intenta apresentar a cidade, em sua multiplicidade e diversidade, como espaço de experiência sensorial e intelectual, local de encenação dos conflitos sociais e de transformações urbanísticas. Suas ruas são palco de circulação de mercadorias, repletas de enigmas; o lugar onde o sujeito autônomo, senhor de uma razão iluminista, perde-se em meio a uma labiríntica multidão — de pessoas, de objetos, de imagens —, e em que a experiência de rapidez, de anonimato pode ser realizada de modo mais radical do que em qualquer outro lugar. Desse modo, ler a cidade é ler um mosaico […]”. Para Vanessa Madrona, “o tema da cidade encontra-se presente em vários momentos do itinerário intelectual de Benjamin. Em 1923, ele traduz para o alemão os Quadros parisienses, de Baudelaire. No final da década de 20 surgem Rua de mão única, Diário de Moscou e a série radiofônica sobre Berlim. Crônica berlinense e Infância em Berlim […] são publicados nos anos 30 e o ensaísta dedica-se às Passagens entre os anos de 1927 até sua morte, em 1940”.