Passagens, de Walter Benjamin, conforme Willi Bolle, constituem “uma referência obrigatória nos estudos interdisciplinares de Literatura, História, Geografia, Ciências Sociais e Filosofia”. A gênese de Passagens, o ponto de partida para a sua construção, foi o romance O camponês de Paris (1926), do surrealista Louis Aragon. O camponês de Paris, conforme ainda Bolle, relembra “as ‘passagens’ ou galerias de compras na Paris do século 19, que ofereciam ao consumidor burguês um ambiente que reunia as atrações da rua e o conforto do seu lar”. Observa também Bolle que “a capacidade visionária de Benjamin de estudar a metrópole moderna a partir dessas construções é atestada pela enorme importância que têm as lojas de departamentos e os shopping centers nas nossas cidades contemporâneas”. Na entrevista à Folha de S. Paulo, citada na coluna anterior, Willi Bolle argumenta que as passagens daquele tempo deram origem aos atuais shopping centers: “As passagens do século 19 enquanto ‘templos do capital mercantil’ são precursoras dos shopping centers de fins do século 20 e início do nosso século. Ambos são espaços reservados para aquela parte da população que tem dinheiro; são o lugar para fazer compras, tomar refeições, encontrar pessoas e desfrutar de entretenimentos, numa atmosfera de proteção e segurança. Ao mesmo tempo, são espaços vedados aos pobres, lugares de exclusão social, documentos de uma sociedade dividida”. O método de Benjamin, em Passagens, seria estudar Paris como “paradigma da metrópole moderna”, e no enfoque de sua obra caberá necessariamente uma abordagem interdisciplinar, “abrangendo História, Geografia, Sociologia, Antropologia, Literatura e Mídia”. Willi Bolle, por fim, propõe relações “entre a metrópole de Paris, no século 19, e a metrópole de Berlim, durante a República de Weimar e o nazismo, além de afinidades e diferenças com megacidades da América Latina nos tempos atuais, como São Paulo, Buenos Aires e Cidade do México […]”.