Três recomendações — e não receitas — ao jovem leitor que pretende escrever. Primeira: é evidente que o escritor, qualquer que seja, aprende o que é literatura lendo, tendo contato com os bons e os grandes autores. Um contista que escreve no Brasil, por exemplo, além dos mestres do gênero (Tchekov, Maupassant, Poe, Mansfield), não deve deixar de ler Machado de Assis, Dalton Trevisan, Clarice Lispector, Rubem Fonseca. Um poeta não deve desconhecer Mallarmé, Pound, Pessoa, Drummond, Cabral, Bandeira. Segunda: a leitura dos grandes mestres deve ser feita pelo critério da qualidade — e não pelo da quantidade. Ler bem é ler com toda a atenção possível. É ler com o corpo. É ler para entender e não para mostrar que sabe, para exibir conhecimento literário. Ler para entender é bem diferente de ler para lembrar. Quem apenas lembra da obra que leu se fixa em aspectos periféricos do texto. Faz leitura superficial. Daí a releitura ser, não raro, uma exigência para quem deseja um maior preparo. É o modo principal de aprofundamento. Poderá desanimar o espírito, por outro lado, a (falsa) idéia de que temos que ler “toda a obra” do autor, tarefa mais apropriada ao pesquisador ou mesmo ao leitor compulsivo, que lê de um tudo (mas que, ligeiro, tende a ter ganhos menos consistentes com suas leituras). A escolha de determinada obra de um autor consagrado poderá ser — ou já é! — um passo indispensável para a boa leitura. Ler bem essa obra, aproveitando-a ao máximo, é melhor do que passar os olhos em todos os livros do autor, retendo pouco ou nada deles. É melhor ler bem, com empenho, com grande interesse, Dom Casmurro do que virar as páginas de todos os romances de Machado de Assis. Terceira: Paixão. Há que ter paixão pelo texto. Um leitor de muitos livros — um leitor da quantidade —, por mais paradoxal que pareça, pode não ser um leitor apaixonado. O leitor verdadeiramente apaixonado é o que se aprofunda, que busca a qualidade e os múltiplos sentidos da obra. A paixão decorre da grande descoberta, do mergulho nesses sentidos. Decorre de um olhar vertical na obra.