O critério adotado para a escolha dos textos da antologia Obras-primas do conto brasileiro, lançada em 1966 pela Livraria Martins Editora (SP), com seleção, introdução e notas de Almiro Rolmes Barbosa e Edgard Cavalheiro, parece frouxo, sem muita consistência. Primeiramente, o conto é tido como “um dos mais interessantes ramos de nossa literatura”. Ora, pode-se perfeitamente afirmar que o poema e o romance são também “ramos interessantes” de qualquer literatura. Em seguida, afirma-se que a coletânea busca “lançar um olhar sem nenhuma pretensão de balanço ou de revisão de valores, e sim, apenas, de constatação”. Mas como não há “balanço” ou “revisão de valores”, se a antologia indica, já no título, que é de “obras-primas”. Diz-se ainda que o principal objetivo da antologia é o de “ser uma janela aberta sobre o panorama do conto brasileiro”. Para esse panorama, “não se deixaram [os antologistas] impressionar pela fama dos autores cuja obra foi percorrida”. Quanto a este aspecto, é de se perguntar: no mais das vezes, uma “obra-prima” não faz a “fama” de um autor? Dizem ainda os antologistas que evitaram “o erro de apresentar obras de uma única tendência ou de uma única escola”. E, enfim, repõem novamente o problema da identidade da literatura nacional, ao afirmarem que na coletânea “encontram-se trabalhos de escritores de todas as correntes e de todas as regiões do Brasil, do extremo sul ao extremo norte, cada qual apresentando o ‘seu Brasil’, formando-se, assim, um conjunto bem expressivo — um verdadeiro retrato da nossa terra, da nossa gente e dos nossos costumes pintado de vários ângulos”. São os seguintes os autores e os 28 contos que integram a coletânea de Almiro Rolmes e Edgard Cavalheiro: Barbosa Rodrigues (Cunha Etá Maloca), Afonso Arinos (Pedro Barqueiro), Afonso Schmidt (O santo), Amadeu de Queiroz (Chão de terra preta), Aníbal M. Machado (A morte da porta-estandarte), Antonio de Alcântara Machado (Gaetaninho), Artur Azevedo (Plebiscito), Hugo de Carvalho Ramos (Ninho de periquitos), Coelho Neto (Firmo, o vaqueiro), Ernani Fornari (Por que matei o violinista), Gastão Cruls (Meu sósia), Graciliano Ramos (O relógio do hospital), João Alphonsus (Galinha cega), João do Rio (O bebê da tarlatana rosa), José Veríssimo (O crime do Tapuio), Júlia Lopes de Almeida (A caolha), Lima Barreto (O homem que sabia javanês), Luiz Jardim (Os cegos), Machado de Assis (Missa do galo), Mário de Andrade (Nízia Figueira, sua criada), Marques Rebelo (Circo de coelhinhos), Monteiro Lobato (Colcha de retalhos), Orígenes Lessa (Shonosuké), Peregrino Júnior (Gapuiador), Ribeiro Couto (Uma noite de chuva, ou Simão, diletante de ambientes), Simões Lopes Neto (Contrabandista), Valdomiro Silveira (Truque) e Lindolfo Gomes (Aventuras de Pedro Malazarte).