Antologias de contos: Quem faz? Que critérios utiliza? (5)

Embora pedindo o julgamento do próprio leitor, Ítalo Moriconi acredita que todos os contos que escolheu “são realmente excelentes”
Ítalo Moriconi, organizador de “Os cem melhores contos brasileiros do século”
01/08/2011

A coletânea Os cem melhores contos brasileiros do século, organizada em 2000 pelo professor e poeta Ítalo Moriconi para a Objetiva, parece se pautar mais abertamente por critérios editoriais. Critérios expostos também numa “Introdução”. A partir de um “desafio” da editora, o organizador, e apesar de pertencer à Universidade (é professor de UERJ), pautou a escolha dos contos da coletânea “não em critérios acadêmicos e sim em critérios de gosto e qualidade”. No fim, embora pedindo o julgamento do próprio leitor, acredita que todos os contos que escolheu “são realmente excelentes”. Ou seja, antes mesmo da apreciação do leitor, o organizador já tem “todos” os cem contos como excelentes, como verdadeiras obras-primas. Sempre operando a partir de uma proposta editorial, o organizador, ao descobrir o que realmente eram os critérios “não-acadêmicos” da editora, chega a afirmar: “Tratava-se de fazer uma leitura com olhos livres, uma leitura desprovida de pré-conceitos doutrinários ou teóricos. Tratava-se de não colocar um conto porque fosse representativo de alguma idéia abstrata, mas sim porque podia agradar ao leitor qualquer, aquele leitor ou leitora interessado/a apenas numa boa história, bem contada e bem escrita”. Talvez seja problemático, e embora com o reconhecimento de que no começo do século 20 se publicaram no Brasil “grandes obras-primas da ficção curta”, o argumento do organizador de que “a arte do conto brasileiro moderno […] não parou de melhorar e aperfeiçoar-se à medida que o tempo passava”. Fica difícil saber, no caso, o que é “aperfeiçoamento” na arte do conto (ou em qualquer arte). Talvez esse tipo de juízo de valor, que aposta mais no contemporâneo, que nele vê o “aperfeiçoamento” de um gênero literário que, entre nós, deu, ainda no século 19, um Machado de Assis como senhor de técnica e de temas insuperáveis, decorra de um apego excessivo a um olhar contemporâneo (Ítalo Moriconi, em certo momento da “Introdução”, afirma: “aqui estão os melhores contos do século tal como vistos por um olhar do final dos anos 90, pertencente a alguém cuja cabeça foi feita já depois dos anos 60”). Nesse sentido, Moriconi se distancia dos citados Almiro Rolmes Barbosa e Edgard Cavalheiro, que, nas Obras-primas do conto brasileiro, chegam a dizer, com acerto, sobre Machado: “… ainda não apareceu nenhum contista que reúna as condições necessárias para arrebatar ao autor […] o título de maior contista brasileiro”. Moriconi também não terá levado em conta a lição de Graciliano Ramos, quando este diz que, assim como há os antigos que foram esquecidos, há os modernos que “envelheceram muito depressa”.

Rinaldo de Fernandes

É escritor e professor de literatura da Universidade Federal da Paraíba. Autor de O perfume de Roberta, entre outros.

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