Uma faceta pouco comentada de Graciliano Ramos é a de antologista. Mas, pelo método que adotou, infalível, até aqui absolutamente insuperável (e com todo respeito aos antologistas que vieram depois dele, incluindo este que aqui escreve), é com certeza o mais importante antologista de contos da literatura brasileira de todos os tempos. A coletânea Seleção de contos brasileiros, em três volumes (é muito difícil para um antologista atual — algo fundamental para o método de mapear, efetivamente, a literatura brasileira — fazer uma coletânea desdobrada em volumes), preparada originalmente para a Casa do Estudante do Brasil pelo escritor alagoano, teve como critérios básicos, além de apresentar narrativas expressivas produzidas do final do século 19 a meados do século 20, recortando as afinidades estilísticas (os estilos de época ou escolas), reunir escritores renomados e novos de várias regiões do país. Portanto, sintetizados no método, o critério temporal, o espacial e o estilístico. Síntese perfeita. Dos 33 contos que integram o volume 1 da coletânea, 30 são de autores do Nordeste e 3 de autores do Norte, do estado do Pará, sendo eles H. Inglês de Sousa (O baile do judeu), José Veríssimo (O serão) e Eneida de Morais (O guarda-chuva). Sergipe e Bahia não constam desse volume, pois integraram o volume 2, juntamente com Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e o antigo estado da Guanabara. O terceiro volume traz autores de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Goiás. No volume destinado aos autores nordestinos (apenas uma mulher, a escritora Raquel de Queiroz, consta dele), Graciliano esboça inicialmente no prefácio (o mais importante de seu método virá mais à frente) o processo de seleção que adotou: “Na obrigação de publicar um livro, antes expor coisa lida, mais ou menos julgada, que exibir composição nova. A dificuldade não seria grande: resignar-me-ia a colecionar, dócil, o que outros colecionaram — e numa quinzena a tarefa estaria concluída. Fiar-me-ia em juízos presumivelmente seguros; isto me livraria de esforços e complicações. Os contistas verdadeiros estão classificados, e temos na ponta da língua o que melhor nos deram”. Os contistas brasileiros de renome já “classificados” e tidos como “verdadeiros” por Graciliano são os seguintes: Machado de Assis, Artur Azevedo, Lima Barreto, Medeiros e Albuquerque, Domício da Gama, João do Rio, João Alphonsus, Monteiro Lobato e Antônio de Alcântara Machado.