Nenhuma reputação se sustenta diante do narrador de Marcelo Mirisola. Em Animais em extinção, romance de 2008 do escritor paulista, o pessoal do hip-hop, os tipos mundanos da Praça Roosevelt e até um escritor ilustre como Jorge Luis Borges são cutucados, desautorizados. Como definir o narrador de Animais em extinção? Canalha, mesquinho, preconceituoso (profundamente!), desabusado, desmedido, atirado, insensato, incorreto politicamente… São muitos os termos. A linguagem intempestiva dele chama bastante a atenção, sendo o palavrão uma de suas marcas — mas também o termo erudito, a apreciação teórica ou conceitual (ao modo dele!). Um erotismo bizarro também é marca da narrativa, em que o escatológico brutaliza e fere o “bom gosto” literário. O talentoso cronista de costumes aparece em vários capítulos e andamentos do livro — e aí são vários os tipos e elementos da cultura contemporânea que são ironizados (e até barbarizados). Mas ainda me pergunto sobre quem é esse narrador? Que tipo ele quer significar em nossa sociedade? Aparentemente, o urbano, de classe média sem perspectiva, buscando sentido na violência (trata-se de um narrador muito violento!).
>>> Continua na próxima edição.