Anotações sobre romances (27)

Bichos de conchas, da baiana Gláucia Lemos, obteve, em 2007, o II Prêmio de Literatura da UBE
Gláucia Lemos, autora de “Bicho de conchas”
27/11/2015

Bichos de conchas, da baiana Gláucia Lemos, obteve, em 2007, o II Prêmio de Literatura da UBE. Tem uma gênese curiosa: foi inspirado, até certo ponto, no filme A ostra e o vento, de Walter Lima Jr. (filme que, por sua vez, foi baseado no romance homônimo do cearense Moacyr C. Lopes). Bichos de conchas é um romance praieiro, de um lirismo, por assim dizer, ensolarado, mas também úmido de chuva, de tempestade. Tempestuosa é a vida da protagonista Celeste, que busca uma liberdade impossível, ilusória. Celeste, como as gaivotas que ela tanto admira, quer o voo, mas bate no solo duro da vida. Ama Tadeu, que é inseguro e até mesmo intempestivo, e encontra paz e equilíbrio ao lado de Lídio, artista plástico, ser de sensibilidade. E de grandeza. De alma extensa. Celeste se divide entre dois homens — um tem o corpo pelo qual ela se apaixona; o outro, a alma valorosa que a apazigua e com a qual ela quer apaziguar e encher de bons fluidos a filha. A perda da filha, ao final da trama, é uma espécie de punição que Celeste sofre por desandar na existência, por ir em busca de horizontes inviáveis. Celeste erra em seu cálculo existencial, erra em seu delírio de liberdade. E é salva por Lídio, que representa no romance a própria realidade — mas uma realidade em que vigoram o afeto, o perdão, a aposta no humano.

Rinaldo de Fernandes

É escritor e professor de literatura da Universidade Federal da Paraíba. Autor de O perfume de Roberta, entre outros.

Rascunho