Não há um centro para Holden Caulfield, protagonista de O apanhador no campo de centeio, de J. D. Salinger. Todos (menos a pequena Phoebe, sua irmã, ou ainda o irmão já falecido Allie) são objeto do seu riso: diretores, professores e colegas de escola; o pai, a mãe, o irmão D. B. (roteirista em Hollywood); as várias figuras (taxistas, prostitutas, gigolôs, garçons) com as quais ele se depara. Os conteúdos pedagógicos e a arte de massa americana (em especial, o cinema) são fortemente ironizados pelo protagonista. Como ironizada é a Bíblia: “Gosto de Jesus e tudo, mas não dou muita bola para a maioria das outras coisas da Bíblia. Os Apóstolos, por exemplo. Pra falar a verdade, os Apóstolos são uns chatos. Depois que Jesus morreu e tudo eles trabalharam direitinho, mas, enquanto Ele estava vivo, não serviam pra nada. Deixavam Ele na mão o tempo todo. Gosto de todo mundo na Bíblia mais que dos apóstolos”. Quando, em seu (transtornado, em certos instantes) giro por Nova York, Holden se reencontra com Sally Hayes, por quem se sente de algum modo atraído, desabafa (e aqui uma síntese de seu pensamento acerca das opções/gostos dos habitantes da cidade): “[…] eu odeio a escola. Poxa, como detesto o troço […]. E não é só isso. É tudo. Detesto viver em Nova York e tudo. Táxis, ônibus da Avenida Madison, com os motoristas gritando sempre para a gente sair pela porta de trás, e ser apresentado a uns cretinos que chamam os Lunts de anjos, e subir e descer em elevadores quando a gente só quer sair, e os sujeitos ajustando as roupas da gente nas lojas, e as pessoas sempre… // […] Os carros, por exemplo […]. A maioria das pessoas são todas malucas por carros. Ficam preocupadas com um arranhãozinho neles, e estão sempre falando de quantos quilômetros fazem com um litro de gasolina e, mal acabam de comprar um carro novo, já estão pensando em trocar por outro mais novo ainda. Eu não gosto nem de carros velhos. Quer dizer, nem me interesse por eles. Eu preferia ter uma droga dum cavalo”.