Por que O apanhador no campo de centeio (1951), do americano J. D. Salinger, é um romance que atrai tanto, tendo uma legião de leitores e admiradores mundo afora? A fluidez e o coloquialismo (que inclui o uso do palavrão) da narrativa, feita por um adolescente de 17 anos? A rebeldia e o escárnio do adolescente? A força da vigorosa desconstrução de valores e costumes, melhor dizendo, da ideologia ou do convencionalismo da classe média americana no pós-Guerra? A acoplagem perfeita do ponto de vista narrativo, que faz o leitor viver intensamente a interioridade do protagonista, sua insatisfação ou mal-estar com os “cretinos” e “falsos” que o cercam? Talvez tudo isso. O fato é que Holden Caulfield é um personagem inesquecível, inquietador, fazendo do único romance de Salinger um dos mais importantes do século 20. O romance, para quem não sabe, narra três dias na vida de Holden Caulfield, filho de um advogado rico de Nova York. Três dias próximos ao Natal, logo após Holden ter sido expulso (ele é reincidente em expulsões escolares) do conceituado Internato Pencey, na Pennsylvania. Holden deixa o internato, viaja de volta para Nova York e, antes de se (re)apresentar à família, resolve se hospedar num velho hotel. São três dias de deambulações, bebedeiras e profunda solidão, que provoca no personagem um quadro de depressão precedido de um esgotamento físico e mental. E são esses três dias da vida de Holden que o leitor acompanha, além de seus (irretocáveis) monólogos, nos quais inúmeras recordações dos vários tipos com quem conviveu ou topou (especialmente durante a fase de seus 16 anos) são postos em cena para serem questionados, desqualificados, demolidos pelo protagonista.