Solidão continental (2012), de João Gilberto Noll, é um romance sobre a (agônica) busca do outro. Mais uma vez o autor gaúcho põe em movimento, como já fizera em tantos romances, notadamente no primoroso Harmada, um personagem com um profundo mal-estar, que deambula atrás de si próprio, de alguma realização ou afirmação no plano afetivo. Personagem, como sempre em Noll, de interioridade difusa e densa ao extremo. E uma vez mais a linguagem justa, que adere à composição geral e cujos efeitos poéticos são marcantes, especialmente no capítulo em que o protagonista carrega Frederico no ombro: “Escutei um burburinho ao longe. Vinha na certa da curva do rio, à esquerda. Cinco ou seis pessoas olhavam para alguma coisa na relva. Fui me aproximando e aos poucos fui identificando um corpo. Pálido, com um corte no rosto, muito perto da boca, Frederico”. Ou ainda na parte final do romance, após a saída do mesmo protagonista do pronto-socorro em Porto Alegre (levara uma pancada na cabeça), suas andanças pelas cercanias da cidade e o retorno (fatigante) para o seu apartamento: “Estremeci. E abri os olhos. Eu estava deitado sobre uma areia grossa. Parecia amanhecer, tudo ainda muito pálido. Uma pandorga negra se movia lenta em uma altura nem tão distante. Vendo do meu ângulo ela se sobrepunha a uma chaminé muito alta que não custei a identificar como sendo a da Usina do Gasômetro à beira do Guaíba”.