A literatura explica a guerra?

Atual, a peça “A greve do sexo”, de Aristófanes, mostra o que justifica a guerra: o interesse financeiro e o poder que os cargos públicos dão aos homens
01/04/2022

Aristófanes, o maior comediógrafo do teatro grego, escreveu a peça, atualíssima, A greve do sexo (Lisístrata), que trata de uma revolta das mulheres de Atenas e de Esparta contra os maridos. Na revolta, liderada pela firme e decidida ateniense Lisístrata, as mulheres, para combater a guerra de gregos contra gregos (Guerra do Peloponeso), resolvem negar sexo aos seus maridos. Foi a única forma que elas, subjugadas/oprimidas por uma cultura patriarcal impiedosa, encontraram para redirecionar os instintos bélicos de seus maridos, que, enlouquecidos por sexo, terminaram suspendendo a guerra e, a partir de um compromisso firmado com a liderança das mulheres (Lisístrata sempre à frente), selaram a paz entre Atenas e Esparta. Na comédia, Aristófanes mexe no problema mais agudo que justifica a guerra — o interesse financeiro e o poder que os cargos públicos e de decisão dão aos homens. Muito da guerra tem a ver com a manutenção do poder e a vaidade que disso decorre. Muita energia — sobretudo sexual — é dirigida para a guerra. É Eros subjugado a Tânatos. As mulheres, na peça de Aristófanes, entenderam muito bem isso. E fizeram com que a paz reinasse — e os prazeres e a própria vida se expressassem.

Rinaldo de Fernandes

É escritor e professor de literatura da Universidade Federal da Paraíba. Autor de O perfume de Roberta, entre outros.

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