Parece ser correto o diagnóstico do crítico Davi Arrigucci Jr. (Folha de S. Paulo, 17/07/2006) sobre a linha editorial de grande parte dos cadernos de cultura do país. Observa o crítico: “A quantidade de livros que sai sem resposta crítica é imensa”. Tratando das resenhas, é rigoroso: “Existem para dizer que um livro surgiu, mas não propriamente para analisá-lo. Assim, os livros têm ‘morrido’ muito cedo. As resenhas saem e, depois, as obras desaparecem”. O aspecto mais importante da fala de Arrigucci Jr. é mesmo esse da “morte” prematura da obra. De fato, pressionados pelo mercado editorial, os cadernos de cultura descartam muito cedo a obra contemporânea (o autor nem tanto — há aqueles que aparecem permanentemente na mídia cultural; em certos casos, a exposição é, mesmo, excessiva). Arrigucci Jr., ao proclamar a necessidade do debate maior sobre a obra do autor contemporâneo (sobre a obra e não sobre o autor), deixa uma excelente idéia que poderá ser aproveitada por editores de suplementos culturais brasileiros. Os editores, efetivamente, precisam abrir mais seções para a obra contemporânea. Fazê-la perdurar no debate. Pôr a boa obra do presente em discussão do mesmo modo como são feitos, em certas revistas (e cito aqui a EntreLivros e a CULT), dossiês acerca de obras e autores do passado. Arrigucci Jr., por fim, procura explicar as razões do problema: “Houve uma retração da nossa vida intelectual. Isso tem a ver com os tempos em que vivemos, com o quadro brasileiro em geral e com a crise das esquerdas”. Em minha coluna Rodapé intitulada “A pergunta de Astier”, publicada em junho, eu já tinha, modestamente, chamado a atenção para a qualidade das resenhas que se fazem no momento. Formulei, grosso modo, a diferença entre crítico-resenhista e crítico-ensaísta. O primeiro tem certamente a sua importância, informativa sobretudo, mas o vi como estando a meio caminho da crítica (enquanto colunista, me incluí entre os críticos-resenhistas). Ao crítico-ensaísta caberia a verdadeira crítica. As relações da obra com textos da série literária ou não, o tempo maior de que dispõe para tecer seu argumento, o amadurecimento, enfim, da análise, fazem deste último o verdadeiro crítico da atualidade. Em certos casos, e repetindo algo que eu também já havia formulado na coluna, a resenha poderá ter força ensaística — mas é uma coisa, realmente, rara. Nenhuma obra ficará pelas resenhas que se produziram sobre ela — mas, notadamente, pelo ensaísmo que terá gerado. Os cadernos de cultura deveriam, após as apreciações de resenhistas, chamar bons ensaístas para pôr (e repor) em foco certas obras contemporâneas.