Machado de Assis, Lima Barreto, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Drummond, Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto, Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Rubem Fonseca, Raduan Nassar, Ivan Ângelo, Augusto de Campos… Não sei se estou certo, mas a literatura brasileira faz tempo que não oferece nomes à altura desses inventores. Estamos numa forte crise de criatividade, de ousadia formal. O melhor escritor da atualidade, nesse sentido, não chega sequer próximo do que foi feito pelos autores acima citados. Não sei o motivo da nossa crise de criatividade, da reiteração de obras com formas cansadas, sem a força que aquilo que é verdadeiramente novo traz e impõe. No romance, no conto, no poema — pouco ou nada vem sendo feito que desperte uma atenção maior, que desestabilize a percepção já montada há décadas. Talvez seja a crise da recepção crítica — já não há um acompanhamento de obras e autores feito por críticos de talento, que se empenham em verificar de perto o percurso e as linhas formais de um autor. Talvez o grande autor inventivo de que trato já esteja aí e não seja percebido. Cabe à universidade, neste momento, a partir de certos pesquisadores sensíveis, lançar um olhar que contempla o contemporâneo. Pesquisadores que dão respostas críticas a certas obras. Mas são poucos os que se voltam para essa tarefa. Há ainda muita dificuldade de publicação por selos que legitimam o autor. E as grandes editoras estão de certa forma reféns da figura do agente literário, que nem sempre é a melhor voz para apontar os talentos mais legítimos. Há, nesse campo, acertos e fracassos. Aqui e ali, alardeia-se o aparecimento de um grande autor, que, logo em seguida, passa a perder força, a ser de algum modo esquecido. O que foi dito, há alguns poucos anos, sobre um romancista como Cristovão Tezza, ressaltado por alguns como um escritor de ponta, já não se repete. E Tezza é, de fato, um bom escritor. Como bom escritor é Ronaldo Correia de Brito, que também já não tem tido a referência e o acolhimento que teve anos atrás, quando lançou seu livro de contos Faca e, na sequência, foi vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura com Galileia. Tezza e Correia de Brito são mestres da narrativa, mas, desconfio, não são inventores de formas. Hoje, os autores que jogam no primeiro time de nossa literatura logo experimentam uma espécie de banco de reserva, recolhem-se para as sombras do campo. Às vezes penso que o problema tem a ver com a nossa instabilidade política, que está invadindo o campo da cultura, das artes em geral. A crise de criatividade, de inventos, tudo indica, é também da música, do cinema, das artes plásticas, do teatro. Estamos numa modorra criativa terrível. Talvez seja o anúncio de algo de bom e de novo que virá mais à frente. Talvez. E, enquanto não voltamos a ser inventores como já fomos, continuemos produzindo e publicando as nossas obras. É o caminho. Ou o que nos resta.