Cândido Neves, do conto Pai contra mãe, é um dos mais marcantes personagens de Machado de Assis no que diz respeito ao despossuído que adere com descaramento ao ponto de vista do possuidor para remediar uma demanda própria. Um personagem que se move cinicamente da condição de reprimido para a de repressor. Acompanhemos a trajetória do personagem no conto. Cândido Neves cede à pobreza ao obter o ofício de “pegar escravos fugidos” (como será mostrado no conto, através especialmente das opiniões de Tia Mônica, trata-se de um ofício incerto, inconstante). O personagem é apresentado como um indivíduo que já passou por inúmeros empregos. A instabilidade dele nos empregos chega a ser chamada, pelo próprio personagem, de “caiporismo” (pelo azar, por não ter sorte em quase tudo que faz). Mesmo sendo um ofício para pobre, é dito que o personagem queria um trabalho quando casasse. O filho, para o casal Cândido Neves e Clara, é “o fruto abençoado”, que virá trazer aos dois “a suspirada ventura”. Em certo momento do enredo, são elencadas as características do ofício de caçar escravos. Aqui o empenho historicista do narrador (idêntico ao da parte inicial do conto, quando ele trata dos “ofícios e aparelhos” da escravidão) é evidente.