Saiu recentemente no jornal Zero hora, de Porto Alegre, matéria assinada por Luís Augusto Fischer, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e crítico literário, na qual é feita uma enquete, com vários professores, críticos e escritores do Brasil afora, acerca da produção literária de Moacyr Scliar, que faleceu há alguns anos. Fui convidado pelo professor Augusto Fischer a emitir uma opinião acerca de obras de Scliar que eu aprecio. Na enquete, para a pergunta Se fosse para ler pela primeira vez um texto dele agora, qual seria o livro?, escrevi a seguinte resposta (o texto, na íntegra, não foi incluído na matéria de Luís Augusto Fischer, eu o publico pela primeira vez aqui): “Não indicaria um livro em especial, mas dois textos extraordinários de Scliar. Pausa, um conto curto, que narra a bizarra situação de um indivíduo que passa os domingos fora da família, hospedado em um hotel simples, é um dos melhores já escritos em língua portuguesa. E tem todos os ingredientes do conto moderno — compactação, poesia, poder (notável) de sugestão, múltiplos sentidos. Este mesmo padrão de escrita do conto Scliar utilizou para elaborar Missa do Galo: um outro enfoque, pequena narrativa que reescreve o clássico Missa do Galo, de Machado de Assis, e que ele me remeteu para integrar a coletânea de reescrituras Capitu mandou flores: contos para Machado de Assis nos cem anos de sua morte, que organizei em 2008 para a Geração Editorial. Aqui Scliar ressignifica com brilho a história machadiana, operando uma paródia reverencial em que a personagem de Conceição, de esposa submissa, assume um discurso de enfrentamento e parte para atuar contra um estado de coisas a que lhe submeteram o marido e as convenções da época. Mas tudo feito com sutileza, sendo que o leitor tem diante de si um perfil feminino bem diferente daquele desenhado pelo Bruxo. Scliar projeta a sua Conceição para os dias atuais. Exercício intertextual — ou metaficcional — dos mais notáveis”.