Desde o princípio na construção de sua obra literária, Jorge Amado, enfrentando a luta verbal, recorreu ao erotismo para seduzir o leitor. Não exatamente o erotismo humano que conhecemos no elemento convencional entre seres que se amam. Sugere a metáfora que inventa e reforça a paixão do personagem para torná-lo ainda mais vivo e mais convincente. Dono do seu destino e do seu amor. Não é um erotismo qualquer e não só ilustra o personagem. Torna-os mais convincentes na construção da história e permanentes na memória do leitor.
Na construção de Antônio Balduíno, em Jubiabá, por exemplo, o narrador mostra como o menino esperava a noite, ansiosamente. Aí está sendo revelado o personagem como um revolucionário que, ainda envolvido na luta social, entrega-se ao humano e as suas conquistas sensuais. O erotismo funciona como o elemento prazeroso da luta. Um homem e seu gosto pela luta, que é a justiça social. Conta o narrador:
(Balduíno) se sentava naquele mesmo barranco à hora do crepúsculo e esperava com uma ansiedade de amante que as luzes se acendessem. Tinha uma volúpia aquela espera, parecia um homem esperando a fêmea. Antônio Balduíno ficava com os olhos espichados em direção à cidade, esperando. Seu coração batia com mais força enquanto a escuridão da noite invadia o casario, cobria as ruas, a ladeira, e fazia subir da cidade um rumor estranho de gente que se recolhe ao lar, de homens que comentam os negócios do dia e o crime da noite passada.
Neste sentido, o narrador destaca a interação do homem em formação, envolto em seu erotismo, absolutamente literário, o que cria um abismo de paixão entre ele e a cidade símbolo de realização e de destruição do homem. Por isso, a cidade se apresenta como esta mulher a ser conquistada e, naturalmente, dominada.
Vem em seguida a frase reveladora de toda ideologia do autor, que não é o narrador, pela técnica. O personagem, que deseja a luta e a conquista social, é alimentado pelo erotismo. Ele — ou o homem — é empurrado por aquilo que chamam de destino social, mesmo que sejam poucas vezes. Sendo assim, o homem se arrasta na sociedade, até chegar ao que lhe é determinado:
Antônio Balduíno, que só fora à cidade umas poucas vezes, sempre arrastado pela tia, sentia àquela hora toda a vida da cidade.
Em Terras do sem-fim, no entanto, a relação deixa de ser entre o homem e o objeto de pedra, cal e homem, para ser feita entre o homem e a natureza. O que demonstra a integralidade da luta, sempre harmônica.
Tem início, agora, o brilhante começo deste romance que integra, enfim, homem e natureza:
A mata dormia o seu sono jamais interrompido, sobre ela passavam os dias e as noites, brilhava o sol de verão, caíam as chuvas de inverno. Os troncos eram centenários, um eterno verde se sucedia pelo morte afora, invadindo a planície, se perdendo no infinito. Era como um mar nunca explorado, cerrado no seu mister. A mata era como uma virgem, radiosa e moça, apesar das árvores centenárias.
Ainda na abertura deste capítulo, o homem, mesmo relutante, volta a orientar a natureza e a luta:
Da mata, do seu mistério, vinha o medo para o coração dos homens. Quando eles chegaram, numa tarde, através dos atoleiros e dos rios, abrindo picadas e se defrontando com a mata virgem, ficaram paralisados pelo medo. A noite vinha chegando e trazia nuvens negras com elas, chuvas pesadas de nuvens.
O erotismo, assim, não é apenas um apelo erótico, por assim dizer, para se transformar num elemento de luta, numa ferramenta capaz de apaixonar o homem.
Vem, imediatamente, a reação. A força que quer impedir as mudança do mundo:
Mas diante deles, parabélum na mão, o rosto contraído de raiva, está Juca Badaró. Também estava ante a mata, também ele viu os rios e ouviu o trovão. Escutou o miado das onças e o silvo das cobras. Também o coração dele se apertou com grito agourento do corujão.