Em um piscar de olhos, como o nada que o tempo realmente é, volta toda tristeza, toda a angústia. O estômago enjoa, a cabeça pesa. A vontade de vomitar me deixa tonta. Olho compulsivamente o celular, na esperança de uma mensagem, a message in a bottle. Namorado toca bateria e Stewart Copeland mora no meu coração.
Fiz de mim o que não soube. E o que podia fazer de mim fiz também.
Está para acontecer, provavelmente em meados de janeiro, o lançamento do livro que escrevi a quatro mãos com a minha mãe, o Uma história da arte (Cepe), e o enjoo só piora. O ar fica rarefeito e o horizonte, pouco nÃtido.
Escrevo a crônica agora, 12 do 12, aniversário de um irmão que mal conheço e de um enteado que não é mais. São histórias que compuseram a estrutura, construÃda na forja do inferno, de quem sou hoje. Tanto pela presença quanto pela ausência. As ausências da minha vida também são parte de mim, tal qual o átomo que é mais nada do que matéria.
Acho que também sou mais nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo. Tabacaria é, disparado, um dos meus poemas favoritos. Eu sei, batido. Dane-se, não ligo.
Estou hoje vencida, porque sei a verdade.
Estou hoje lúcida, conhecedora da minha mortalidade.
Tudo me deixa tonta e a voz da minha mãe, que ecoa no livro, não ajuda.
A garrafa com a mensagem não chega. Mesmo quando chega, nunca chega. Vivo em um eterno Too Little, Too Late.
Abro a capa do livro, linda, pela milésima vez. Só para olhar, ver a vista, me perder. Janelas do meu quarto? Talvez.
Falhei em tudo.
Nina percebe que preciso passear e, gentilmente, me leva. Com exceção de um ou outro pombo (bolinhas que voam por moto próprio, uma tecnologia inovadora), ela consegue me conduzir com relativa tranquilidade.
Voltamos para casa. Ela suspira e dorme. A certeza absoluta de um trabalho bem feito, privilégios dos quadrúpedes. Os bÃpedes erram muito.
Abraço a cachorra em agradecimento.
Ela entende.
Ela sempre entende.