Três narrativas distintas, que se passam em diferentes capitais da Europa oriental, compõem o mais novo livro do escritor Gonçalo M. Tavares, Bucareste-Budapeste: Budapeste-Bucareste, lançado agora no Brasil pela Oficina Raquel.
Em uma das histórias, é narrada a saga de dois irmãos para desmembrar e atravessar uma volumosa estátua de Bucareste para Budapeste, via fronteira terrestre. A ideia é não deixar às vistas dos guardas fronteiriços a identidade do retratado, já que isto poderia trazer sérias complicações aos dois sujeitos, que tentam levar uma obra de grande valia para um milionário.
Enquanto isso, na direção contrária, está Miklos, que vai buscar a mãe morta em Budapeste, na tentativa de trazê-la a Bucareste e ali enterrá-la — passando também pela fronteira entre Hungria e Romênia, por terra.
Na narrativa seguinte, “Vujik, o vampiro”, é um habitante de Belgrado que tem por hábito devorar fotografias. Por meio dessa prática, Vujik busca apreender as imagens, os lugares e os conteúdos do mundo. É no desvelar da história, entretanto, que se compreende mais da rotina misteriosa do persoangem, a forma singular de se comunicar e se relacionar com a vida exterior a si mesmo.
Por fim, a última narrativa fala sobre Martha, nascida e criada em Berlim, que tem o hábito de comentar sobre a presença excessiva de estrangeiros, a cor, os idiomas e o cheiro que possuem, criando um constante ambiente de tensão, racismo e xenofobia.
Como o próprio Gonçalo define, as histórias do livro estão centradas no “aparente ajustamento, ou no desfasamento forte, entre a grande história e as pequenas vidas”, isto é, rememoram acontecimentos históricos marcantes que ocorreram nos pontos do globo mencionados nas histórias, especialmente durante o século 20 — acontecimentos que moldaram as vidas das pessoas, engendraram subjetividades e, até hoje, reverberam e produzem materialidade.
Nascido em Angola e radicado em Portugal, Gonçalo M. Tavares é um dos mais destacados escritores da atualidade, com livros traduzidos em cerca de 50 países. Recebeu o Prêmio Oceanos, o Prêmio Literário José Saramago e o Prix du Meilleur Livre Étranger (com Aprender a rezar na era da técnica) — premiação francesa que já consagrou autores como Gabriel García Márquez, Philip Roth e Orhan Pamuk.