Após emigrar para os Estado Unidos em 1940, o escritor russo Vladimir Nabokov encontrou na carreira de professor um meio de garantir a subsistência: deu aulas de literatura em universidades até que o sucesso literário batesse à porta com Lolita.
Quase quatro décadas depois, os manuscritos dessas aulas foram reunidos em dois volumes autônomos dedicados aos clássicos da literatura europeia e russa. Lições de literatura e Lições de literatura russa são lançados agora no Brasil pela Fósforo, ambos com tradução de Jorio Dauster.
Os livros são uma boa oportunidade de ler um escritor clássico falando sobre outros autores canônicos. Em Lições de literatura, Nabokov examina os clássicos Mansfield Park, de Jane Austen; A casa soturna, de Dickens; Madame Bovary, de Flaubert; O médico e o monstro, de Stevenson; No caminho de Swann, de Marcel Proust; A metamorfose, de Kafka; e Ulysses, de James Joyce.
“São vidraças coloridas que se abrem sobre sete obras-primas”, diz o escritor John Updike a respeito dessas extraordinárias aulas de Nabokov, que tanto ensinam sobre os livros e seus autores quanto revelam sobre os segredos da arte da escrita.
Já Lições de literatura russa reúne uma série de cursos sobre alguns dos pilares da literatura do país de origem de Nabokov: Gógol, Turguêniev, Dostoiévski, Tolstói, Tchekhov e Górki. As aulas foram realizadas durante as décadas de 1940 e 1950.
Em 1981, o material foi reunido em livro nos Estados Unidos, graças ao editor Fredson Bowers, que organizou as anotações deixadas por Nabokov. Publicadas anteriormente pela editora Três Estrelas e esgotadas há tempos, essas lições são agora relançadas pela Fósforo.
Nelas, Nabokov analisa os principais livros e temas dos expoentes da literatura russa do século 19, bem como seus métodos de criação. O escritor não se furta a revelar sua admiração por Tolstói e demais predileções: “Aquele que prefere Dostoiévski ou Górki a Tchekhov nunca será capaz de apreender a essência da literatura e da vida russas”.
Além de desfazer equívocos e chavões sobre a Rússia e seus autores, Nabokov transforma essas lições em exercícios de liberdade, opondo-se de maneira implacável e irônica aos dogmas da crítica literária e às ideologias políticas.
Assim como Dostoiévski, Vladimir Nabokov nasceu em São Petersburgo. Depois da Revolução Russa, mudou-se com a família para a Alemanha, em 1919. Estudou literatura francesa e russa no Trinity College, em Cambridge, na Inglaterra.
Em 1940, emigrou para os Estados Unidos, onde deu aulas de literatura em várias universidades, como Stanford, Cornell e Harvard. Morreu em 1977, na Suíça. Considerado um dos mais importantes escritores do século 20, além de Lolita, sua obra mais conhecida, é autor também de Fogo pálido, Ada ou ardor, Desespero, entre outros.