Aquáticos
antes de tudo
havia um começo
onde coisas já eram sobras
de coisas e atravessavam
umas às outras
quero saber
em que ponto exato
eu e você começamos
em qual gesto
qual ausência de gesto
qual falha de movimento
você se torna meu cúmplice
naquilo que avança e emperra
trata-se
é lógico
do que só se mostra
na invisibilidade absoluta
no breu das formas
em que ponto o começo se dispara
em sua mão na minha nuca
e faz trama
e depois resto
tudo trama
cheiros espaços físicas calafrios
um começo é sempre
um engano se não for tomado
como emaranhado
de fios levantando
a âncora
você disse
tenho certo pavor
que você me ame
tenho certo pavor
em olhar no seu olho
e constatar a força
do que está chegando
o que está a caminho
continua
não deixa de continuar
nunca
…..
Susi in transe
desenhe no chão
de sua sala uma floresta
agora tire acessórios
vestimentas
entre
cuidado
para não apagar
com sua pressa a vida selvagem
do que virá
…..
Sânscrita
sua cabeça
cheia de pássaros
até que um dia
um pássaro se desconcentra
e me ataca
tenho tanta coisa presa que voa
imagine um pássaro de fogo
atravessando o centro dessa cidade
quando eu e outras putas vendem seus fogos
quero juntar uma revoada
na outra até descosturar
fios que prendem uma casa
uma cabeça um amor um filho no outro
muitos pássaros
pousados em poemas
alguns tombados
junto a árvores
mas aí não são
mais pássaros
dessa terra