No bairro da Vila Tibério, em Ribeirão Preto, a brutalidade do presente ecoa a mesma praticada durante um período sombrio da história brasileira — a ditadura militar. Neste romance do escritor paulista, o clima é de um presente ainda assombrado: um idoso, bebendo cerveja no bar, vê uma mulher que dormia na rua morrer em chamas e o acontecimento o faz recordar outro igualmente brutal. “Amanhece e, sobre as escadarias da igreja, há o que resta de um cobertor queimado. Onde a miserável dormia antes de ter o corpo consumido pelas chamas, há uma mancha escura, formando um desenho que poderia interessar àqueles que apreciam e acreditam no teste de Rorschach”, relata o narrador; em seguida, pergunta ao leitor o que ele vê na situação e oferece três opções, em uma manobra literária que lembra a estrutura do conto Octeto, do norte-americano David Foster Wallace. É assim, numa história contada por uma voz consciente de seu papel, que a trama se desenvolve. Cabe ao leitor escolher os rumos da narrativa.