Revolta e desencanto
Sou assinante do Rascunho já há alguns anos. E o que mais me encantava era que o jornal tratava com maestria de literatura, e só literatura. Agora, lendo a edição de setembro, coluna Vidraça, vejo o jornal se posicionando sobre o comportamento de um candidato a presidente da república, comparando-o a Hitler. Triste ver meu último refúgio de leitura imparcial se entregar assim ao jogo político. Obviamente essa carta não será publicada. E assim vamos parando de ler por não aguentar mais as coisas nos lugares errados. Sinto muito pelo Rascunho. E por mim, que provavelmente vou cancelar mais algumas assinaturas esse ano.
Camilla Tebet • Ribeirão Preto – SP
Orígenes Lessa
Realmente trata-se de uma novela e não de um romance, mas discordo da análise de Rodrigo Gurgel sobre O feijão e o sonho (1938) de Orígenes Lessa (Rascunho #216). A história se passa durante a República Velha — por várias referências a personalidades da época (Joaquim Nabuco e Olavo Bilac) e menção à “guerra no outro mundo” (1914-1918) — com crítica aos políticos (capítulo 36) e ao governo, manifestando o desejo de revolução (capítulo 13). O narrador-onisciente aprofunda a personalidade do personagem principal (capítulos 10 e 11), assim como as conversas de Campos Lara com Chico Matraca (capítulo 9) e com o Oficial (capítulos 14 a 16). Ao longo do livro, o embate dialético entre realismo e idealismo serve para síntese do narrador-onisciente (capítulos 48 e 49). […] Não há incompletude no final (capítulos 50 e 51), pois ele é aberto e não excludente entre as duas opções. Tanto a Geração de 1930 como a Geração de 1945 mostraram que se podia viver o feijão (emprego público) e o sonho (literatura).
Luiz Roberto da Costa Jr. • Campinas – SP
Nota do editor
Trata-se apenas, e tão somente, de uma informação sobre livros expostos em livrarias do Rio de Janeiro. Não perdemos o nosso pouco tempo com coisas e coisos da política brasileira.