Curitiba e Londrina estão no centro da prosa do paranaense Carlos Machado. Mais do que cenários, as cidades ganham status de personagem na literatura memorialística do autor. Em seu mais recente romance, Machado volta aos seus locais ficcionais preferidos. Depois de duas décadas sem visitar sua cidade de origem, o psicólogo Pedro retorna ao interior do Paraná com a suposta finalidade de reatar alguns laços soltos e voltar a um passado que o acompanha. A narrativa dessa busca (estruturada em prólogo, episódios e epílogo, como as tragédias clássicas do teatro grego) fornece pistas para o leitor sobre qual a verdadeira razão de sua viagem, sua relação com a mãe e com o pai, seus avós paternos (que vieram da Itália fugindo da Segunda Guerra) e ainda divagações sobre como a psicanálise e algumas pseudociências (ironizadas por ele) explicam a formação de seu caráter e personalidade determinada, muito possivelmente, pela infância e outros momentos de sua criação. “O cheiro da terra vermelha depois da chuva é algo de que nunca me esquecerei. Assim como jamais perderei o enlace dos dias mais frios de Curitiba, quando tudo fica cinza e o sol parece nunca mais ter forças para aparecer”, narra uma passagem do romance.