Hoje, dia 25 de janeiro de 2024, a cidade que escolhi como minha completa 470 anos. Amo São Paulo. Vim para cá de propósito e com muito esforço. No atual momento da minha vida, não consigo me imaginar morando em nenhum outro lugar. Do mundo. Sim, isso inclui Paris, Londres, etc.
Assim como qualquer cidade, Sampa tem problemas. Barulho, poluição, trânsito, roubo de celular, falta de luz, etc. As reclamações são, obviamente, procedentes. Entretanto, para quem, como eu, que quer verdadeiramente viver aqui, os problemas assumem um valor emocional menor. Acredito que esse mecanismo seja o mesmo para qualquer pessoa que more em um lugar escolhido e não por inércia.
O que eu acho divertido é a percepção radicalmente oposta de absolutamente tudo. A avenida Paulista aberta aos pedestres, por exemplo. Tem gente que detesta. As bandas fazem muito barulho (sim, fazem). As pessoas não são educadas (não, não são). A rua fica caótica (sim, fica). O cheiro das barraquinhas de comida é forte demais (sim, é). No entanto, eu vejo: música de graça; população se divertindo; movimento; opções de lazer. Simplesmente adoro. Por mim, inclusive, podia deixar assim para sempre. Aproveita e coloca um gramado bonito e fazemos o nosso próprio Central Park. Que se danem os carros.
Não, não tenho nada de Poliana. Enxergo o copo pela metade. Apenas acredito que precisamos urgentemente desenvolver uma outra maneira de ser e de estar em sociedade. Sociedade inclui a cidade, inclui transporte público se sobrepondo ao individual, inclui a utilização democrática do espaço e, principalmente, inclui uma coexistência pacífica entre pessoas muito, muito diferentes.
Para não dizer que não falei de flores, o paulistano tem algumas tribos que fogem completamente da minha compreensão. O farialimer, por exemplo. Aquele povo estranhíssimo que tem toda a sua identidade baseada no fato de que trabalha no centro financeiro de São Paulo, centralizado em torno da avenida Faria Lima. É aquela pessoa que acredita que o LinkedIn é uma rede social saudável e justa. Aquele grupo de gente que nunca é demitido de lugar nenhum, são sempre ciclos que se encerram com gratidão. O meu espanto é real.
Nessa semana, uma farialimer tentou me convencer de que seria um excelente negócio fazer um seguro de vida pagando algo como mil reais por mês durante dez anos para, no final disso e no evento da minha morte, meu filho receber 200 mil. Não sou um gênio financeiro, muito pelo contrário, mas não é preciso ter uma formação em economia para entender que nah, eu sou otária mas não tanto, minha filha.
O que mais me espantou no processo foi a tática de venda. Ouvi casos e mais casos de pessoas que recusaram e na semana seguinte descobriram uma doença séria, sofreram um acidente terrível, sofreram um infarto fulminante, foram abduzidas por extraterrestres, comidas por uma lampreia gigante, enfeitiçadas, viraram sapos, atropeladas por um unicórnio. Eu parei de ouvir em um certo momento. É de um terrorismo horroroso. E veja você, que sorte a minha, só hoje na promoção isso inclui um seguro funerário. Terrorismo psicológico não importa a que custo para conseguir fechar uma cota, bater uma meta, bater uma cota, fechar uma meta, sei lá, não domino a linguagem, algo assim.
Então vocês já sabem. Se eu cair dura antes da próxima crônica foi porque não repassei a corrent… Não, pera. Foi porque recusei ser roubada assim, na cara dura, por uma farialimer. Céus, como eu detesto essa turma.