A pergunta, aqui e ali, vem: quais as características mais marcantes de Os sertões, de Euclides da Cunha? Como já falei em artigo para O Estado de S. Paulo, a importância do livro reside sobretudo no fato de Euclides de Cunha ter focalizado de perto o problema das nossas disparidades sociais, regionais, ainda agora bastante visíveis. Euclides não só denunciou um crime (o do Exército contra os canudenses), mas fixou um problema que está na formação da sociedade brasileira — o do desprezo histórico às populações interioranas do país, que ainda agora se deslocam para virar miseráveis nas grandes cidades. O livro é, nesse sentido, uma das mais importantes interpretações do Brasil — e feita, de forma crítica, incisiva, logo que se inicia a nossa República. Além disso, é necessário considerar a questão do estilo literário de Euclides. Quanto ao estilo euclidiano, já falaram em “jogo antitético”, em “barroco científico”, etc. É visível em Os sertões uma mistura dos gêneros literários (o épico, o lírico e o dramático). O livro de Euclides, assim, além de obra de ciência, ficou como obra literária. Outra pergunta que também aparece com freqüência: que aspectos mais interessantes devem ser considerados no romance A guerra do fim do mundo (2001), do Prêmio Nobel Vargas Llosa, e que não estão presentes em Os sertões?
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