Que ano, porca miséria. Com algumas vitórias, é verdade, mas ainda assim.

O Natal teve pouquíssimas pessoas e terminou cedo. Estamos exaustos. Ninguém aguenta mais.

O meu primeiro semestre foi particularmente difícil.

A lenta perda de S. certamente é a medalha de ouro das muitas derrotas de 2023.

Vou carregar no corpo, para sempre, o cheiro da entrada daquele hospital.

O som do elevador antigo, lento e lotado.

O rosto sorridente do segurança. Como sorrir em um lugar desses? Ele sairá vivo, como não sorrir?

A imensa boa vontade do enfermeiro. Um ser de luz, esse sim.

O barulho das máquinas. Ventilador pulmonar, dialisador, sei lá mais o quê.

A sensação de morte em todo lugar.

S. amarrada. “Ela se debate, é para ela não se machucar”, me disseram.

Ao todo, dezesseis viagens de urgência para o Rio de Janeiro.

Gosto cada vez menos da cidade onde vivi mais de três décadas.

Quando me obrigaram a reconhecer o corpo, me vi deitada ali, morta.

Não conseguia respirar. Culpei a máscara, claro.

Não conseguia ficar em pé. Não tive a quem culpar.

Pensei em meu filho e em como eu não quero que ele passe por isso. Não sei o que posso fazer para evitar uma violência dessas contra ele. Como toda mãe, quero protegê-lo das atrocidades, das agressões, das injustiças. Como toda mãe, me angustia falhar terrivelmente.

Nina Simone comemora a permissão para dormir na cama, conquistada em uma das noites dessa dor.

Não sei o que seria de mim sem essa cachorra. Se você estiver passando por um momento complicado, adote um animal de estimação.

Tem um meme com um cachorro falando que tem duas responsabilidades com seu humano: estressá-lo quando está calmo e acalmá-lo quando está estressado. Parece correto.

Não canto vitória antes do tempo, mas tudo indica que 2023 vai, finalmente, terminar. Que seja sem fogos. Um, porque não merece. Dois, porque cachorros não gostam.