Um longo cochilo

Angélica Freitas: "Escrevo à mão, em cadernos escolares. Deixo as primeiras páginas em branco."
Angélica Freitas, autora de “Rilke shake” Foto: Bel Pedrosa
01/11/2012

Um desejo de provocar fazendo literatura. Talvez seja esta a grande marca da poesia bem-humorada e ao mesmo tempo trágica da gaúcha Angélica Freitas. Nascida em 1973, em Pelotas (RS), já trabalhou como repórter em O Estado de S. Paulo e na revista Informática Hoje. Publicou em diversas revistas, como Inimigo Rumor, Diário de Poesia (Argentina) e aguasfurtadas (Portugal). Integra a coletânea Cuatro poetas recientes de Brasil, publicada em Buenos Aires em 2006. Um ano depois, publica seu primeiro livro, Rilke shake. Angélica lança agora Um útero é do tamanho de um punho, que, ao longo de seus 35 poemas, coloca a mulher como centro temático, questionando tanto o mundo como sua própria identidade. São versos que deixam o leitor entre a seriedade e o riso, assim como nesta breve conversa.

• Quando se deu conta de que queria ser escritora?
Aos 9 anos, depois de ganhar uma enciclopédia. Um dos tomos era de poesia.

• Quais são suas manias e obsessões literárias?
Escrevo à mão, em cadernos escolares. Deixo as primeiras páginas em branco.

• Que leitura é imprescindível no seu dia-a-dia?
Aquela dos momentos antes de dormir, ou seja, o que estiver na mesa de cabeceira.

• Quais são as circunstâncias ideais para escrever?
De manhã cedo, tomando um café na mesa da cozinha.

• Quais são as circunstâncias ideais de leitura?
Uma rede, um lápis para sublinhar ou anotar, silêncio.

• O que considera um dia de trabalho produtivo?
Não penso muito em termos de produtividade.

• O que lhe dá mais prazer no processo de escrita?
A liberdade. Não saber para onde estou indo.

• Qual o maior inimigo de um escritor?
Ele (ou ela) mesmo.

• O que mais lhe incomoda no meio literário?
Machos alfa.

• Um autor em quem se deveria prestar mais atenção.
Susana Thénon, poeta argentina.

• Um livro imprescindível e um descartável.
Depende. Com enxaqueca, todos os livros são descartáveis.

• Que defeito é capaz de destruir ou comprometer um livro?
Uma edição feia.

• Que assunto nunca entraria em sua literatura?
Acho difícil algum não entrar.

• Qual foi o canto mais inusitado de onde tirou inspiração?
Do Google.

• Quando a inspiração não vem…
Deixo pra lá.

• O que é um bom leitor?
Quem consegue levar o que leu para a vida diária.

• O que te dá medo?
Que as pessoas desistam de ler.

• O que te faz feliz?
Tirar cochilos.

• Qual dúvida ou certeza guia seu trabalho?
Poesia é investigação.

• Qual a sua maior preocupação ao escrever?
Não me repetir.

• A literatura tem alguma obrigação?
Ultimamente, acho que a literatura precisa provocar.

• Qual o limite da ficção?
42.

• O que lhe dá forças para escrever?
Sinceramente, o café.

• Se um ET aparecesse na sua frente e pedisse “leve-me ao seu líder”, a quem você o levaria?
Minha mãe!

• O que você espera da eternidade?
Um longo cochilo.

 

Rascunho

Rascunho foi fundado em 8 de abril de 2000. Nacionalmente reconhecido pela qualidade de seu conteúdo, é distribuído em edições mensais para todo o Brasil e exterior. Publica ensaios, resenhas, entrevistas, textos de ficção (contos, poemas, crônicas e trechos de romances), ilustrações e HQs.

Rascunho