Tom Jobim, em Corcovado, especialmente nos versos “Quero a vida sempre assim/ Com você perto de mim/ Até o apagar da velha chama”, pensa o amor nos termos do chamado “amor romântico” (afinal, “até o apagar da velha chama” é o mesmo que “até que a morte nos separe”). Zygmunt Bauman chama a atenção para as transformações pelas quais as relações amorosas passam em nosso tempo, tornando o amor romântico definitivamente deslocado: “Pode-se supor (mas será uma suposição fundamentada) que em nossa época cresce rapidamente o número de pessoas que tendem a chamar de amor mais de uma de suas experiências de vida, que não garantiriam que o amor que atualmente vivenciam é o último e que têm a expectativa de viver outras experiências como essa no futuro. Não devemos nos surpreender se essa suposição se mostrar correta. Afinal, a definição romântica do amor como ‘até que a morte nos separe’ está decididamente fora de moda, tendo deixado para trás seu tempo de vida útil em função da radical alteração das estruturas de parentesco às quais costumava servir e de onde extraía seu vigor e sua valorização” (in: Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos, p. 10). Há uma série de canções de Tom cujo tema central é a queixa pela ausência da amada. Às vezes a solidão imobiliza o “eu” poético, que, incontinente, se enche de lágrimas: “Tarde cai a tarde/ E a sombra vem andando pelo chão/ Tarde cai a tarde/ E a saudade também cai no coração// Pois alguém foi embora e não voltou/ outro alguém tão sozinho aqui chorou/ Tarde cai a tarde/ Cai o pranto dos meus olhos sem amor” (Cai a tarde — Tom Jobim).
CONTINUA NA PRÓXIMA EDIÇÃO.