Em seu mais recente romance, a carioca Adriana Armony foca mais uma vez sua lupa ficcional nas mulheres e em seus dramas pessoais. Depois de narrar a história da artista modernista Patrícia Galvão em Pagu no metrô, ela entrelaça a vida de duas mulheres bem destintas em Vamos chamá-la de Maria. Na varanda do seu apartamento, uma mulher branca de classe média lê uma matéria sobre uma outra mulher, preta e pobre, vítima de tráfico sexual. Sob o impacto dessa história, passa a imaginá-la, entrelaçando duas narrativas: as suas próprias experiências erótico-amorosas e as noites assustadoras de escravidão sexual dessa personagem que ela chama de Maria e que poderia ser qualquer mulher. Nesse entrelaçamento em que os homens de uma transitam para a vida da outra, a dicotomia que existe entre as duas personagens ao mesmo tempo se acentua e se dissolve. “O paralelo entre as sexualidades femininas, uma ‘livre’ e a outra ‘escrava’, é muito instigante”, escreve o romancista Alberto Mussa sobre a obra.