O novo livro de contos da autora paulista, acostumada a analisar os podres do cotidiano em suas narrativas breves e versos, nĂŁo Ă© para quem tem estĂ´mago fraco. Em texto sobre a obra, Elidia Novaes sugere que Maria Fernanda “olha em volta”. SĂł que nĂŁo como qualquer um olharia, mas quase com “olhos de uma criança” ou de “um stalker psicopata, talvez visitando algum paĂs de costumes muito diferentes”. O comentário se deve ao fato de que nĂŁo parecem existir meias-palavras, no conjunto, para representar bem de perto situações controversas — e, portanto, muito humanas. “Eu tenho mil cento e cinquenta e sete mortes. Meu assento cheira a merda, vĂ´mito e urina. No minuto final, meu amigo, no instante em que a corrente elĂ©trica já torrou os miolos, espirrou os olhos para fora, todos cagam, vomitam e mijam”, começa o conto 636. Em anos anteriores, a escritora e defensora pĂşblica lançou Enfim, imperatriz (2017), vencedor do PrĂŞmio Jabuti, e os poemas de 179. ResistĂŞncia (2019), que ganhou o prĂŞmio Biblioteca Nacional.