Sucesso de crítica, o livro de estreia da espanhola Andrea Abreu também arrebatou leitores, vendendo mais de 70 mil exemplares na Espanha e sendo traduzido para 20 línguas. O nome do romance, “Pança de burro”, se refere a um fenômeno meteorológico característico do norte das Ilhas Canárias: nuvens pesadas e baixas formam uma espessa camada sobre a terra, eventualmente com a presença de neblina. É nesta paisagem plúmbea, no interior de Tenerife, longe do Atlântico e das orlas chiques das ilhas, que se desenrola esta história de amizade entre duas jovens que tentam se situar no mundo. De um lado, um vulcão ameaça entrar em erupção e tem saias “como se fosse a Shakira”, os cães são sempre feios e as contradições do machismo e da desigualdade social surgem nas falas de mulheres “religiosas, mas boca suja”: as avós, as mães, as tias. De outro, o despertar da sexualidade, os mecanismos complexos da amizade feminina — o amor, a inveja, a “vontade de fazer mal”, o desejo — e a melancolia que parece estar sempre à espreita compõem uma outra natureza igualmente violenta.