Em Paisagem de porcelana, o Ãmpeto da aventura, em vez de atiçar a viagem por estradas e paisagens exóticas, desencadeia um perturbador processo de introspecção e imobilidade. A trajetória da jovem protagonista, narrada em primeira pessoa, descreve de forma lÃrica e delicada uma investida na névoa: a história de terror e solidão cujos contornos a memória tratou de embaralhar. Encurralada pela paisagem de estranhas amplidões, a jovem viajante — cujo nome só será revelado a certa altura do romance — mantém seu tênue contato com o mundo por meio de apenas três pessoas. Yasuko é a vizinha japonesa de quem se torna cúmplice, mas de quem se perde por completo. Peter é o professor afetuoso, porém distante na geografia. Ernest, filho de paquistaneses, é o namorado, mas também a personificação da tragédia. É ele que a ameaça e a leva mais para perto do abismo. É ele que, pouco a pouco, enlouquece. No final, Paisagem de porcelana mostra-se uma narrativa em que tudo é movediço.