No primeiro romance da autora paraense, o fluxo intenso de memórias da protagonista dita o ritmo da história. Entre Belém do Pará, São Paulo, Rio de Janeiro e Portugal, a narrativa se constrói a partir do ponto de vista — tão ágil quanto irônico — da narradora, uma mulher, mas também deságua em questões mais abrangentes, que de alguma forma circundam as vivências da personagem — feitas de encontros, desencontros, amores, um aborto. Nesse misto de passado e presente, revela-se a história do bar que dá nome ao livro. No Oito, localizado em Belém, uma juventude em transformação, formada por artistas, jornalistas e estudantes, é reprimida pela polícia militar local, em uma situação que parece conversar com o fôlego renovado de um certo autoritarismo moralista que se insinua no Brasil. “Se há algo em comum entre letras e números”, anota Haroldo Ceravolo Sereza no texto de apresentação, brincando com o título do livro, “é essa possibilidade de fazer nascer uma linguagem que ao mesmo tempo propõe e resolve enigmas”.