Em O bom Stálin, VĂktor ErofĂ©iev narra sua “infância soviĂ©tica feliz” sendo filho de um funcionário do alto escalĂŁo. AlĂ©m de colaborador de Stálin e MĂłlotov, seu pai foi conselheiro cultural na embaixada russa em Paris e lá circulou entre festas e artistas, como Pablo Picasso, Simone Signoret e Yves Montand, que fascinavam o jovem narrador. Conforme vai crescendo, vĂŞ-se dividido entre Paris e Moscou, entre o amor que sente pelo pai e a aversĂŁo que tem por um colaborador ferrenho de um regime que abomina ao mesmo tempo que desfruta dos privilĂ©gios de sua posição. De traços sartriano e dostoievskiano, o protagonista se desvenda aos leitores sem poupá-los dos prĂłprios paradoxos. Seguindo os meandros da memĂłria, a histĂłria fornece um panorama da UniĂŁo SoviĂ©tica e da formação do movimento da dissidĂŞncia dos anos 1960 e 1970 e do cultuado almanaque MetrĂłpol (1979), que reuniu grandes nomes da literatura russa contemporânea. O almanaque, idealizado por ErofĂ©iev, acabou enterrando a carreira de seu pai, trazendo Ă tona o tema do parricĂdio, que paira psicanaliticamente em toda a narrativa.