A reunião dos textos de Astolfo Marques (1876-1918), mais de um século depois de terem circulado na imprensa maranhense, parece atestar o positivo movimento de resgate histórico pelo qual a literatura passa. A antologia, organizada pelo professor e pesquisador Matheus Gato, mostra como funcionavam as dinâmicas sociais do Brasil pós-Abolição. “Não me esquecerei nunca dum chefe de polícia que aqui houve, muito abolicionista”, diz trecho de uma narrativa. “Quando ia algum senhor pedir a captura do escravo fugido, ele sempre se saía com esta: ‘Como se chama o seu escravizado? Quais os principais sinais do seu escravizado?’, e assim por diante, frisando sempre a palavra escravizado”. A Proclamação da República e aspectos culturais do país à época também marcam os textos do intelectual negro, do qual pouco se fala. “O silêncio que cerca Astolfo Marques não é apenas o da posteridade, ou tão somente o do homem concentrado que trabalha, mas também o da pessoa discreta que evita conflitos e tenta não fazer alardes”, atesta o organizador da obra.